UFOB passa a isolar vírus da dengue, zika, chikungunya e outros arbovírus: entenda a importância!

Por Revista Formosa
A técnica
O isolamento de vírus é a técnica de referência para todos os exames laboratoriais com objetivo de detecção e identificação do agente causador da doença, quando se trata de um vírus. Mesmo técnicas ultramodernas, como a RT-qPCR, amplamente utilizada na pandemia de COVID-19, não possui sensibilidade comparável ao isolamento viral. Entretanto, o isolamento pode ser combinado a outras técnicas e contribuir para o aumento de sua sensibilidade e precisão.
Isto acontece porque os vírus são parasitas obrigatórios das células, estruturas microscópicas que compõem nossos tecidos e órgãos. Somente nelas os vírus se multiplicam, utilizando a maquinaria biossintética da hospedeira. E assim, aumentam de número, possibilitando detecção com maior facilidade por outras técnicas laboratoriais.
Tais ações se dão a partir do cultivo de células adequadas para a multiplicação do tipo de vírus que se procura. Tais células são então expostas a amostras clínicas de pacientes doentes, suspeitos de portarem o vírus em questão, que pode entrar nas células e se multiplicar. Se isto acontecer, serão produzidas deformidades específicas nas células, chamadas de efeito citopático.
Além desses achados, o vírus poderá ser reconhecido por reações químicas específicas que o denunciarão. A implementação de tal técnica depende de infraestrutura adequada e trabalho especializado de virologistas, profissionais com expertise em virologia, o estudo dos vírus.
A implementação
O grupo de pesquisa coordenado pelo Dr. Jaime Henrique Amorim, biomédico e virologista, coordenador do Laboratório de Agentes Infecciosos e Vetores da UFOB, trabalhou na implementação da técnica. Composta essencialmente por estudantes de doutorado, mestrado e iniciação científica da UFOB, a equipe vem recebendo treinamentos ofertados pelo coordenador desde o final de 2021.
Há dois meses, a biomédica e mestranda Ludimila Mesquita, juntamente com as estudantes de graduação em farmácia Gabriele de Lima Barreto e Izabelle Caires Moreira dos Santos, conseguiu, pela primeira vez no oeste da Bahia, isolar vírus da dengue, zika e chikungunya em células da linhagem C6/36, oriundas de mosquitos Aedes albopictus, parente do Aedes aegypti.
Importância para a região e resultados
A implementação da técnica pelos pesquisadores da UFOB é um marco de desenvolvimento regional, que contribuirá ainda mais para diminuição de assimetrias e dependências de grandes centros, como Salvador e Brasília, na realização de exames de alta complexidade.
A UFOB agora poderá contribuir no isolamento de arbovírus, um procedimento de referência, somente oferecido em pouquíssimos laboratórios do Brasil. Isto aumentará a precisão e o nível de confiança dos exames laboratoriais de diagnóstico das doenças causadas por estes vírus.
Com isto, o monitoramento epidemiológico das doenças também se tornará muito mais preciso, contribuindo para a proposição de políticas públicas de controle e enfrentamento das doenças mais eficientes. Inclusive, o grupo de pesquisa constatou que a epidemia de arboviroses do ano de 2021 nas cidades de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães foi composta majoritariamente por casos de chikungunya, e não por dengue, como se pensava.
Além disto, os pesquisadores identificaram casos de co-infeccao, quando a pessoa foi infectada por mais de um tipo de vírus. Por exemplo, em alguns casos, os pesquisadores detectaram vírus da chikungunya e vírus da dengue no soro do mesmo paciente, mostrando que os dois vírus estavam presentes no organismo. Isto só foi possível graças a capacidade propagativa do isolamento viral, que aumentou significativamente a sensibilidade da técnica RT-qPCR, utilizada na identificação final dos vírus.
Além destes pontos, o trabalho também está contribuindo para a formação de recursos humanos de alta capacitação para a região. Como exemplo, o biomédico Marcus de França Cirilo, profissional atuante na região oeste da Bahia, finalizou um curso de mestrado ofertado pela UFOB na área de patologia, sob orientação do Dr. Jaime Henrique Amorim, com projeto em virologia, e já tem contribuído no estudo dos vírus circulantes na região.
"O isolamento de arbovírus é o primeiro passo em avanços mais robustos na área de virologia na região oeste da Bahia. A partir de agora, outros tipos de vírus também poderão ser isolados, o que trará novos marcos de desenvolvimento regional", considera o Dr. Jaime Henrique Amorim.
