Ucraniana é a segunda mulher na história a ganhar a Medalha Fields, o Nobel da matemática

06/07/2022
Pesquisadora resolveu problema geométrico que estava sem solução desde o século 16 | Foto: Canva
Pesquisadora resolveu problema geométrico que estava sem solução desde o século 16 | Foto: Canva

Por Revista Formosa

A Ucrânia acaba de vencer mais uma batalha, dessa vez no campo intelectual. Na terça-feira 5, quatro matemáticos receberam uma das maiores honrarias da ciência, a prestigiosa Medalha Fields, considerada o Nobel da disciplina, entre os quais a ucraniana Maryna Viazovska, 37 anos.

Professora e pesquisadora da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, Viazovska, nascida e criada em Kiev, é a segunda mulher em toda a história a receber o prêmio desde sua criação, em 1936. A primeira a quebrar a hegemonia masculina foi a iraniana Maryam Mirzakhan, em 2014.

A láurea é concedida de quatro em quatro anos a jovens expoentes da área, com até 40 anos, que foram capazes de "feitos extraordinários". No caso de Viazovska, a façanha foi resolver um problema geométrico secular, no qual demonstrou o método mais eficiente de alocar esferas idênticas em um determinado espaço já descoberto.: em outras dimensões.

Problema secular

O "problema de empacotamento de esferas", ou Conjectura de Kepler, foi levantado em 1611 pelo notório astrônomo alemão Johannes Kepler, que se propôs a descobrir como as balas de canhão deveriam ser empilhadas para obter a solução mais adequada possível.

Conta a lenda que a dúvida surgiu quando um capitão de navio perguntou a um matemático qual a melhor forma de armazenar balas de canhão numa embarcação. A indagação teria chegado ao conhecimento de Kepler, que, além de estudar os astros, se interessava por problemas de medição de volumes de líquidos e por outras questões da física.

Mas, afinal, qual a melhor maneira de empilhar esferas? A pergunta, aparentemente tão banal, atormentou os matemáticos há cinco séculos.

Kepler tentou respondê-la e concluiu que o empilhamento usual de pirâmides era a melhor forma - ou, em termos científicos, a maneira mais densa, que deixa menos espaço entre as esferas - para organizá-las, preenchendo pouco menos de 75% do espaço disponível. Porém, ele morreu sem conseguir provar que estava certo.

Desde então, várias outras mentes brilhantes tentaram decifrar o mistério, mas ninguém tinha conseguido de forma definitiva, até agora.

Viazovska encontrou a resposta não em três dimensões, mas em oito dimensões. Assim, conseguiu preencher da maneira mais eficiente possível, pelo menos até o momento, uma estrutura de empacotamento.

"Para três dimensões, a estrutura piramidal é a solução mais ideal . Mas, nós, matemáticos podemos ir além, para quantas dimensões quisermos, na nossa busca pela melhor resposta", disse a ucraniana.

Os outros vencedores deste ano foram: James Maynard, 35 anos, da Universidade de Oxford, na Inglaterra; Hugo Duminil-Copin, 36 anos, da Universidade de Geneva, na Suíça; e June Huh, 39 anos, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.