Torcedores relembram jogos históricos do clássico Ba-Vi

28/01/2023

Nostalgia dos mais antigos serve para amenizar atual fase dos times

Fred do Chame-Chame: “Esse brilho e esse charme do clássico vai ficar eternamente marcado” - Foto: Uendel Galter
Fred do Chame-Chame: “Esse brilho e esse charme do clássico vai ficar eternamente marcado” - Foto: Uendel Galter

Por Revista Formosa

Às vésperas do primeiro Ba-Vi do ano, um mix de sentimentos toma conta dos torcedores. Saudosismo e esperança de dias melhores permeiam os pensamentos de tricolores e rubro-negros antes de mais um confronto histórico pelo Campeonato Baiano e trazem à tona dias gloriosos de outrora e derrotas acachapantes de um passado recente. A um dia do maior clássico do Nordeste, que acontecerá às 16h de domingo e terá a Fonte Nova como palco para mais um espetáculo, as lembranças se tornam mais vívidas.

Os fracos desempenhos nos últimos anos, com o Vitória chegando a uma Série C de Brasileiro e sendo eliminado por quatro anos consecutivos na primeira fase do Baianão, com o Bahia indo para a Segunda Divisão nacional e também passando vergonha no estadual e no Nordestão, a saudade de ídolos como Bobô, Charles, Raudinei, Beijoca, Fito Osni, Hugo, Arturzinho, Ramon, Índio e tantos outros que marcaram seus nomes na história dos seus respectivos clubes e no clássico fica ainda mais evidente.

Nem mesmo a volta do Tricolor à Primeira Divisão e a do Rubro-Negro à Segunda conseguiram amenizar a saudade dos bons tempos, já que o início de temporada dos dois times não tem sido de encher os olhos. O Esquadrão vem de duas derrotas - uma no Nordestão e outra no Baianão - e o Leão ganhou apenas um jogo no Estadual.

Com o momento instável dos clubes e o futuro turvo, o economista, produtor esportivo e torcedor do Bahia apaixonado Fred Flávio, mais conhecido como Fred do Chame-Chame, gosta de reacender o passado para inspirar os que aqui estão agora. E, de bate-pronto, relembra alguns momentos que marcaram a sua vida como tricolor.

"O Ba-Vi de 1979, que fecha o hepta [estadual do Bahia], eu ainda tinha ali de 12 pra 13 anos de idade, uma sexta-feira à noite, com uma garoa fina caindo no estádio. E Fito estava na reserva, estava machucado, foi poupado para entrar no segundo tempo. Zezé Moreira [treinador] sabiamente deixou ele com a orientação de chutar, porque estava chuviscando e poderia, no chute dele de fora da área, surpreender, como de fato aconteceu na falha de Gelson [então goleiro do Vitória], e o Bahia foi heptacampeão", relembra Fred, que faz questão de recordar outro momento icônico.

"Quinze anos depois, lá estava eu de novo, na Fonte Nova, em 1994, para o famoso gol de Raudinei, que eu acho que também ficou marcado pra sempre, pra todo torcedor tricolor, em nossos corações e mentes, o eterno gol de Raudinei", suspira.

Mas não são apenas os tricolores que guardam boas lembranças. O jornalista rubro-negro Paulo Leandro recorda, com detalhes, como se estivesse acontecendo nesse exato momento, quando o Leão o fez explodir de emoção. "Vitória 3x1 Bahia, 17/12/72, fomos em família; até a nossa empregada Gracinha foi. Osni jogou muito e eu aprendi a recitar o mais belo dos poemas: Osni, André e Mário Sérgio", comenta Leandro, que já emenda outro jogo.

"Osni ajoelhado diante de Romero e Romero pegando o Baixo pelos cabelos e jogando ele longe. Depois o pau quebrou e a gente ganhou de 1 a 0, gol de André, aniversário do Vitória em 1973", diz Paulo, que solta uma crítica. "Até pra brigar a gente tinha categoria. Hoje...".

Paulo Leandro: "Aprendi a recitar o mais belo dos poemas: Osni, André e Mário Sérgio"| Foto: Uendel Galter
Paulo Leandro: "Aprendi a recitar o mais belo dos poemas: Osni, André e Mário Sérgio"| Foto: Uendel Galter

Impacto no clássico

O desempenho ruim da dupla baiana nos últimos anos também impactou diretamente na quantidade de jogos. Quem estava acostumado a ver Ba-Vis decisivos no Baiano, no Nordeste, além dos duelos no Brasileirão, teve que se contentar com clássicos a conta-gotas. Em 2022, por exemplo, ocorreu um único duelo entre os dois, um insosso empate por 1 a 1, com gols de Rodallega (Bahia) e Luidy (Vitória), em partida válida pelo Campeonato Baiano.

Para Fred do Chame-Chame, o clássico vem perdendo força e pode impactar na próxima geração de torcedores da dupla. "O fato de nós termos poucos Ba-vis nas últimas temporadas, para o pessoal da velha guarda, significa algo que deixou de acontecer, o que nós chamamos de 'campeonato à parte'. Porque, por mais que a situação fosse adversa, tanto para um como para outro, com times melhores, com elenco melhores, mas no Ba-vi eles se superavam dentro de campo, então, era chamado de campeonato à parte justamente por isso, mesmo que um dos times não estivesse bem no campeonato, fazia questão de ganhar o Ba-Vi".

Já para Paulo Leandro, o problema do enfraquecimento do clássico, da queda da rivalidade, vai muito além. "O Ba-Vi perdeu força quando o Estado renunciou ao seu dever de assegurar a realização do jogo e o Judiciário afastou a torcida do Vitória da Fonte Nova, mesmo em número menor, pois jogava como de fosse em casa, impondo ao coirmão acachapantes e históricos 5 a 1 na inauguração e aqueles 7 a 3, inesquecíveis. As instituições protegeram o Bahia", desabafa.

"Eu acho que para as novas gerações, o Ba-Vi vai perdendo a sua essência, né? Esse brilho, esse charme, porque você não tem mais essas referências do momento que você acompanha dessa nova geração nos últimos anos, pelo fato dela estar acompanhando poucos Ba-Vis, com jogos sem importância, jogos de meio de turno, jogos que às vezes são apenas para compor tabela. Para essa nova geração, que está acompanhando agora, o clássico deixa a desejar, sim. Mas para a gente das antigas, esse brilho, esse charme e essa história marcante do clássico vão ficar eternamente marcados", considera Fred.