Pioneiro no combate à malária e à doença de Chagas, “Osvaldinho Guarda” deixa legado histórico em Formosa do Rio Preto

18/11/2025
Osvaldinho Guarda - Imagem/Revista Formosa
Osvaldinho Guarda - Imagem/Revista Formosa

Por Revista Formosa

Por Mariano França, com colaboração da editoria da Revista Formosa

O trabalho de prevenção e combate a doenças endêmicas em Formosa do Rio Preto, no oeste da Bahia, carrega marcas profundas do esforço de um homem: Osvaldo de Sene Corado, conhecido como Osvaldinho Guarda.

Entre as décadas de 1970 e 1990, ele atuou na linha de frente do controle da malária e da doença de Chagas, enfrentando dificuldades logísticas, resistência da população e a precariedade dos recursos disponíveis à época.

Funcionário da CEM, SUCAM e posteriormente da FUNASA, Osvaldo trabalhou entre 1973 e 1993 em um período marcante para o combate aos principais vetores das doenças que assolavam tanto a sede quanto a zona rural do município.

Seu serviço incluía desde a aplicação de inseticidas até a coleta de amostras de sangue para diagnóstico.

Um trabalho que começava no lombo do burro

No início da carreira, Osvaldo não contava com meios de transporte adequados. Sem condições financeiras ou apoio logístico, realizava suas visitas montado em um burro e carregava, em outro animal, todo o equipamento necessário — bombas de pulverização, frascos, lâminas de vidro e amostras.

Somente em 1986, o governo federal disponibilizou bicicletas para atender regiões mais próximas e com melhor acesso. Mesmo assim, áreas mais distantes, como o Gerais do Rio Preto, continuaram sendo alcançadas exclusivamente por meio do transporte animal.

DDT, BHC e Cipermetrina: as armas contra os vetores

Imagem/Revista Formosa
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Osvaldo começou seu trabalho aplicando DDT nas residências para controlar o mosquito transmissor da malária. 

O processo era demorado: cerca de 20 dias para concluir a dedetização de todas as casas de uma localidade.

A partir de 1982, passou também a combater o barbeiro, inseto transmissor do Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas. 

Utilizando BHC e, posteriormente, cipermetrina, o serviço levava em média 30 dias para abranger toda a comunidade atendida.

Além da dedetização, Osvaldo fazia coletas de sangue em lâminas de vidro, cada uma identificada por um código específico. 

Os registros eram anotados em fichas de visita domiciliar que garantiam o controle do trabalho realizado em cada residência.

Resistência e mediação comunitária

Nem sempre o trabalho era bem aceito.

Segundo relatou ao colunista da Revista Formosa, Mariano França, Osvaldo enfrentava recusa violenta em algumas casas e, quando o convencimento não funcionava, o Estado era acionado para autorizar a dedetização compulsória.

Para facilitar a aceitação nas comunidades geraizeiras, buscava sempre o apoio de líderes locais.

Para facilitar a aceitação nas comunidades geraizeiras, buscava sempre o apoio de líderes locais. 

Assim, contava com a mediação de figuras como Zome Batista (in memoriam), Emídio Meira Leite (in memoriam) e Sipriano Batista Gomes na Cachoeira; Pedro Gomes de Leite – o Pedro Preto (in memoriam) na Vereda do Gado; João Guedes dos Santos – João de Domingo (in memoriam) na Cacimbinha.

Ainda representantes como Antônio Batista Gomes – Antônio de Santo na Barra do Rio e Gato; João de Silveste na Aldeia; Alípio Dias (in memoriam) em São Marcelo; Eliodorio Nogueira (in memoriam) em São José; e Adelson Ramos (in memoriam) no Mato Grosso, entre outros. 

Memória afetiva e reconhecimento

Imagem/Revista Formosa
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Nascido em julho de 1973, Mariano França lembra de acompanhar o trabalho de Osvaldo na localidade de São Marcelo.

As coletas de sangue assustavam as crianças, que muitas vezes tentavam se esconder para evitar o pequeno furo no dedo. Mas o temor logo se dissolvia quando Osvaldo chegava trazendo balas e pirulitos, gesto simples que marcava a infância de muitos.

Mariano relata que, embora o pai não tenha sido atendido por Osvaldo — já que contraiu a doença de Chagas antes do início da atuação do agente — reconhece no trabalho dele um impacto profundo na saúde pública local.

"Sou muito grato a seu Osvaldo, pois o seu trabalho duro, árduo e difícil de executar salvou muita gente da malária e da Chaga. Meu pai não teve a sorte de passar pelas mãos dele, pois quando seu Osvaldo iniciou esse trabalho meu pai já estava contaminado pelo bicho barbeiro e faleceu em 2019 em decorrência da doença. Muito obrigado, seu Osvaldo!", disse.

Um legado que permanece

A trajetória de Osvaldinho Guarda representa um capítulo importante da história sanitária de Formosa do Rio Preto. Seu esforço — muitas vezes solitário, sempre persistente — ajudou a reduzir drasticamente a incidência de doenças que por décadas afetaram comunidades inteiras.

Hoje, já com idade avançada, Osvaldo continua lúcido e com memória admirável, sendo capaz de relatar em detalhes a grande experiência que acumulou ao longo de anos dedicados ao serviço público e à proteção das famílias formosenses.

Em tempos nos quais se discute a importância dos agentes de endemias, sua história lembra que, por trás de cada avanço na saúde pública, existe o trabalho incansável de pessoas que dedicaram a vida a proteger outras.

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