Pedro Preto: a voz, a força e a história do povo geraizeiro em Formosa do Rio Preto

21/10/2025
Imagens cedidas à Revista Formosa
Imagens cedidas à Revista Formosa

Por Revista Formosa

Por Mariano França, com colaboração da editoria da Revista Formosa  

Pedro Gomes dos Santos, o lendário Pedro Preto, nasceu em 01 de agosto de 1920, nos Gerais de Formosa do Rio Preto, Oeste da Bahia. 

Filho de Pantaleão e Ângela, cresceu em meio ao cerrado nativo, às veredas, às vazantes e aos costumes que moldaram seu caráter desde cedo. 

Foi nos Gerais que construiu sua identidade, sua história e seu destino como líder, tornando-se a maior referência comunitária de seu tempo. 

Pedro Preto faleceu em 30 de julho de 2002, aos 82 anos, deixando um legado que atravessa gerações.

Família e raízes

Pedro Preto teve oito irmãos: Nininha, Moça, Virgilino, Santo, José de Panta, Antônia Dada, Maria de Totô e Dona. Seu primeiro casamento foi com Miúda, união da qual não teve filhos. 

Mais tarde, conheceu Francisca, carinhosamente chamada de Chica de Pedro Preto, com quem construiu uma família numerosa e respeitada. Eles tiveram 08 filhos:

Júlia Gomes dos Santos (Júlia de Pedro Preto), Getúlio Gomes dos Santos, Virgulino Gomes dos Santos (Bira de Pedro Preto), Ermenísia Gomes dos Santos (Baducha), Nazinha Gomes dos Santos, Oswaldo Gomes dos Santos, Maria Gomes dos Santos e Luiza Gomes dos Santos (Luiza de Oliveira).

O legado familiar de Pedro Preto se multiplicou em 48 netos, 118 bisnetos e 35 tataranetos, muitos deles ainda guardiões da memória e das tradições dos Gerais.

O surgimento de uma liderança

Pedro Preto. Imagem cedida à Revista Formosa
Pedro Preto. Imagem cedida à Revista Formosa

Foi entre o final da década de 1940 e o início dos anos 1950 que a liderança de Pedro Preto floresceu. As comunidades passaram a enxergá-lo como referência máxima.

Pedro Preto era, ao mesmo tempo: apaziguador, conselheiro, delegado, advogado popular, organizador de festas, mediador de conflitos e coordenador comunitário. Sua palavra representava ordem, respeito e justiça social.

Nos Gerais, nenhum conflito, reunião ou decisão importante era tomada sem que o nome de Pedro Preto estivesse presente. Ele foi, em seu tempo, o símbolo da autoridade moral do povo geraizeiro.

O homem que organizava o território

Pedro Preto participou de tudo o que dizia respeito ao desenvolvimento, à cultura, ao transporte e à sobrevivência dos geraizeiros. 

Foi mangabeiro, tirou leite de mangaba, produziu cordas, redes e linhas de pesca feitas do Tucum — matéria-prima abundante nas antigas campinas, antes de ser ocupadas pelo agronegócio.

Também teve papel fundamental na navegação do Rio Preto, organizando balsas que transportavam arroz, farinha de mandioca, mangaba e outros produtos, ligando as comunidades rurais à sede do município.

Todos os anos, nos dias 28 e 29 de junho, celebrava em sua casa a tradicional festa de São Pedro, que unia fé, cultura e convivência comunitária.

Estradas, pontes e caminhos construídos no braço

Dona Francisca. Imagem cedida à Revista Formosa
Dona Francisca. Imagem cedida à Revista Formosa

Seu espírito de liderança está registrado nas grandes obras coletivas dos Gerais. Entre elas:

  • A estrada que passava pela Estrondo até a localidade Cachoeira, aberta "no braço", com machado, foice, enxada e facão, sob seu comando.
  • A ponte de madeira da Vereda do Gado, viabilizada durante a gestão do prefeito Pedro Guedes, interligando Vereda do Gado, Tapuio, Cachoeira, Marinheiro, Cacimbinha, Furtuoso, Vila Panambi e Estrondo — hoje substituída por uma ponte de concreto, eleita a sétima maravilha de Formosa do Rio Preto.
  • A estrada do Riachão ao Diamantino (TO), também construída em regime coletivo e por sua liderança, permitindo que a produção local chegasse ao Tocantins por caminhão, enquanto outra parte seguia por balsa rumo a Formosa.

Antes das pontes, foi ele quem atravessou jipes, Toyotas e carros pequenos em balsas de buriti, no histórico Porto de Pedro Preto, na Vereda do Gado.

A liderança que guiava pessoas

Quando as famílias dos Gerais precisavam comprar mantimentos na cidade, eram organizadas e conduzidas por Pedro Preto. 

Entre as mulheres que viajavam sob sua liderança estavam:

Ercida da Beira d'Água, Tomásia do Ribeirão, Aristéia da Cacimbinha, Virgília da Barra do Tapuio, Maria de Santo da Cachoeira, Teresa do Marinheiro, Vencerlina da Vereda do Gado, Nega de Vicente, Antônia Dada da barra do Tapuio, Cirília da região de Cachoeira, 

Elas vinham à cidade enquanto os maridos ficavam na lida, na roça e na caça. 

Mariano França, colunista da Revista Formosa e morador da região, relata que ajudava Pedro a atravessar os animais, a carga e também o grupo na localidade de São Marcelo, antes da construção da ponte de madeira, usando balsa e canoa.

Chegando à sede de Formosa do Rio Preto, era Pedro quem resolvia questões de documentos, demandas na Prefeitura, acompanhamentos médicos e outras necessidades da comunidade.

Reconhecimento político

Dona Lucinha e Pedro Preto. Imagem cedida à Revista Formosa
Dona Lucinha e Pedro Preto. Imagem cedida à Revista Formosa

Nos anos 1980, Pedro Preto foi recebido no Palácio de Ondina, em Salvador, pelo então governador Antônio Carlos Magalhães (ACM).

Na ocasião, recebeu uma carta simbólica de propriedade dos Gerais, reconhecimento oficial de sua representatividade diante daquele território histórico.

O juiz do povo

Pedro também exercia o papel de homem da lei. Nas festas, conflitos e desentendimentos, era ele quem chegava para apaziguar.

Em casos de desonra, determinava casamentos, zelando pela moral e pela harmonia das famílias.

Sua decisão era respeitada — e cumprida.

Legado eterno

Pedro Preto foi mais que um líder: foi o guardião do povo e do território geraizeiro de Formosa do Rio Preto

Defendeu a terra, organizou comunidades, criou caminhos e deixou como herança um exemplo de caráter, coragem e compromisso coletivo.

Passadas tantas décadas, seu nome permanece vivo — nos 08 filhos, nos 48 netos, nos 118 bisnetos, nos 35 tataranetos e na memória do povo do Gerais.

Sua história continua atravessando o tempo, tal qual as águas do Rio Preto seguem cortando o cerrado.

Pedro Preto não foi apenas parte da história: ele é a própria história dos Gerais.

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