Medicamento contra câncer ‘expulsa’ HIV de células, mostra estudo

08/02/2022

Por Revista Formosa

O uso de uma droga indicada para tratamento contra câncer mostrou um resultado eficaz em expulsar o vírus HIV de células de pacientes que vivem com o vírus.

O imunoterápico, chamado de pembrolizumabe, conseguiu reverter o processo de latência do HIV em células de pessoas com câncer que fazem uso de coquetéis antirretrovirais (que possuem carga viral controlada).

Com a expulsão do vírus HIV no citoplasma, as células de defesa puderam identificar o vírus e agir na morte celular.

O estudo foi publicado na revista especializada Science Translational Medicine em 26 de janeiro e contou com pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Para identificar a ação do medicamento, o ensaio clínico incluiu 32 voluntários, dos quais 29 possuem carga viral indetectável e apenas três possuíam nível viral acima do limite de detecção.

A pesquisa é um passo adiante na busca por drogas capazes de atacar células infectadas pelo vírus no organismo, um dos principais desafios para a criação de uma vacina contra Aids.

Como funciona o medicamento

A droga age na liberação de moléculas anti-PD-1, sigla para proteína 1 programadora de morte celular. Essa proteína inibe a ação de células de defesa T, capazes de identificar o vírus invasor.

Algumas células T possuem longa vida e "guardam" o vírus HIV por anos. Portanto, ao se ligar nessas moléculas, o anticorpo pode ajudar o organismo a identificar as células infectadas e atacá-las.

Resultados

Cada um dos voluntários recebeu um ciclo de terapia e foi avaliado a cada três semanas para determinar a quantidade de células T e de material genético do HIV depois do tratamento.

Após oito dias do primeiro ciclo, a quantidade de fragmentos do RNA viral detectados aumentou 1,32 vezes, ou seja, a droga teve sucesso em "expulsar" o vírus dormente das células. Esse número chegou a 1,6 vezes maior a partir do 22º dia, quando começou o segundo ciclo.

Além disso, depois de seis ciclos, ou 126 dias, a quantidade de células T com vírus detectável aumentou 1,44 vezes, sugerindo que o tratamento teve sucesso em reverter a inibição das células de defesa e tornar "visível" as células com vírus dormente.

O estudo, porém, concluiu que ainda são necessários ensaios com um número maior de indivíduos para determinar qual seria a dose ideal de pembrolizumabe para reverter a dormência do vírus e ao mesmo tempo restringir os efeitos colaterais do imunoterápico.