Maria Parteira: a mulher que trouxe ao mundo gerações inteiras no Oeste da Bahia

04/12/2025
Imagem/Revista Formosa
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Por Revista Formosa

Por Mariano França, com colaboração da editoria da Revista Formosa

Por décadas, antes de existir hospital, estrada ou qualquer estrutura mínima de saúde, uma mulher simples, de mãos firmes e coração imenso, tornou-se amparo, esperança e salvação para centenas de famílias no interior do Oeste baiano.

Maria Ferreira de Souza — carinhosamente conhecida como Maria Parteira — nasceu em 24 de junho de 1923 e dedicou praticamente toda a sua vida ao cuidado com mães e bebês em Formosa do Rio Preto e Santa Rita de Cássia.

Faleceu em 10 de junho de 2021, faltando 14 dias para completar 98 anos, deixando um legado que se confunde com a própria história da região.

Uma vocação que começou cedo

Aos 20 anos, Maria descobriu o caminho que a acompanharia até o fim da vida: ajudar mulheres em trabalho de parto. Não havia médicos, muito menos transporte.

O rio Preto era estrada, e a fé, a coragem e a experiência eram os instrumentos disponíveis.

Em meio às necessidades, ela mesma atravessava municípios para vender frutas que ganhava das famílias que atendia. De balsa, seguia para Barra (BA) em busca de algum dinheiro para criar os filhos.

Era uma rotina dura, mas que nunca a afastou do compromisso com cada gestante que batia à sua porta.

Casa que virava maternidade

Quando a situação exigia, a residência simples de Maria transformava-se em maternidade improvisada. 

Ali, mulheres ficavam até 20 dias após o parto, recebendo cuidados que iam muito além de técnica: banho no bebê, roupas lavadas, almoço pronto, oração e companhia.

Em outros casos, ela permanecia por três dias na casa da própria gestante para garantir que tudo estivesse bem.

Anotava cada nascimento — primeiro em um caderno, depois em fichas fornecidas pelo antigo CESP. Disciplina que mostra a dimensão do trabalho: acredita-se que Maria realizou mais de três mil partos, todos bem-sucedidos.

Nenhuma mãe e nenhuma criança atendida por ela foi a óbito, inclusive em casos complexos, como o de uma gestante de gêmeos com eclâmpsia, que precisou ser transferida para São Paulo. Os bebês ficaram sob os cuidados de Maria e suas filhas até o final do tratamento da mãe.

Histórias de coragem

Uma de suas histórias mais marcantes aconteceu quando precisou de apoio médico urgente. Sua filha saiu da localidade de Malhadinha, zona rural de Formosa do Rio Preto, de bicicleta, para buscar socorro.

O senhor João Moreno foi quem transportou a gestante, já em situação delicada, até o CESP. Esse episódio ilustra a precariedade da época — e, ao mesmo tempo, a força da comunidade que se unia em torno do trabalho da parteira.

Maria também recebia ajuda das famílias: trabalhava beneficiando o sisal para o senhor Martiniano, plantava roças nas terras de dona Eliza e vendia as frutas que ganhava de amigos como Seu Fortino, Osmundo, Antonio Serpa e José Vaqueiro.

Criou seus sete filhos — seis deles vivos — entre enxadas, orações e noites sem dormir, sustentada pela solidariedade de quem reconhecia sua dedicação ao próximo.

Reconhecimento do povo

Mesmo após a inauguração do Hospital Dr. Altino Lemos Santiago, quando foi oficialmente proibida de realizar partos, as mulheres insistiam. Confiavam mais nas mãos de Maria do que em qualquer sala de hospital. E ela seguia, na casa de quem pedisse, com a mesma dedicação.

Figuras conhecidas de Formosa nasceram pelas mãos dela, como o procurador municipal Arnaldo Filho, além da Dra. Charla, Thaís, Thadson e tantos outros cidadãos que hoje lembram com gratidão de sua história.

Em 2014, Maria foi homenageada pela Câmara Municipal como Cidadã Destaque, reconhecimento pequeno diante da grandeza de sua contribuição, mas simbólico para quem fez da solidariedade um ofício.

Últimos anos e legado

No fim da vida, quando já não podia mais trabalhar, recebeu de volta tudo aquilo que ofereceu ao mundo: cuidado, carinho e amor.

Filhos e netos se revezavam nos cuidados diários, numa retribuição silenciosa à mulher que ajudou a construir a história de tantas famílias.

Maria Parteira deixou este mundo em 2021, mas sua memória permanece viva nas centenas de casas onde a vida começou com seu toque.

Cada criança que chorou pela primeira vez em suas mãos, cada mãe que confiou sua dor e sua alegria, cada família que atravessou décadas graças ao seu trabalho, hoje carrega um pedaço dessa mulher forte, generosa e inesquecível.

Dona Maria não foi só uma parteira. Foi ponte, foi cura, foi conforto, foi mãe de um povo inteiro.

@revista.formosa

Maria Parteira: a mulher que trouxe ao mundo gerações inteiras no Oeste da Bahia Maria Ferreira de Souza, a histórica Maria Parteira, dedicou mais de sete décadas a trazer vidas ao mundo em Formosa do Rio Preto e Santa Rita de Cássia, oeste da Bahia. Nascida em 1923, ela começou aos 20 anos a atender gestantes em uma época sem médicos, hospital ou transporte. Realizou mais de 3 mil partos — todos bem-sucedidos — e acolhia mães em sua própria casa, cuidando delas e dos recém-nascidos com atenção total. Mesmo após a inauguração do hospital em Formosa do Rio Preto, no início da década de 1990, e a proibição dos partos domiciliares, ela continuou sendo procurada por quem confiava em sua experiência. Criou seus filhos com apoio da comunidade e registrou cada nascimento em cadernos e fichas do CESP. Condecorada pela Câmara de Vereadores em 2014, faleceu em 2021, aos 97 anos, deixando uma história que marcou profundamente o Oeste da Bahia. Dona Maria não foi só uma parteira. Foi ponte, foi cura, foi conforto, foi mãe de um povo inteiro. Matéria completa: https://www.revistaformosa.com/l/maria-parteira-a-mulher-que-trouxe-ao-mundo-geracoes-inteiras-no-oeste-da-bahia/ #notícias #revistaformosa

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