Justiça baiana é a mais lenta do estado e leva mais de dois anos para julgar processos

05/11/2025
Tribunal de Justiça da Bahia Crédito: GIL FERREIRA / CNJ
Tribunal de Justiça da Bahia Crédito: GIL FERREIRA / CNJ

Por Revista Formosa

Os cidadãos da Bahia enfrentam uma das maiores demoras do país para ver um processo ser julgado. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a primeira decisão na Justiça baiana leva, em média, 817 dias — mais de dois anos de espera. 

O número é o mais alto entre os ramos do Judiciário que atuam no estado, que soma 4,4 milhões de processos pendentes, incluindo os suspensos e arquivados provisoriamente.

De forma geral, o tempo médio entre o início de uma ação e o primeiro julgamento na Bahia é de 725 dias, o que coloca o estado entre os cinco sistemas judiciais mais lentos do Brasil, conforme o levantamento "Justiça em Números", do CNJ.

Apesar da morosidade, houve avanço: em relação a outubro do ano passado, o prazo caiu 22%, o que representa uma redução de 211 dias. Ainda assim, os índices variam conforme o tipo de Justiça. 

Na estadual, o julgamento demora em média 817 dias; na federal, 619; nos tribunais superiores, 536; na militar, 390; na do trabalho, 365; e na eleitoral, 137.

Entre os milhões de processos que ainda aguardam julgamento, 3,4 milhões continuam sem decisão, e mais de 126 mil estão parados há mais de 15 anos — a maioria envolvendo cobranças de dívidas públicas e ações cíveis.

A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia (OAB-BA) tem recebido um número crescente de reclamações sobre processos parados. 

Desde o início de 2024, foram 2.810 denúncias, sendo 1.513 apenas neste ano. Para Marcelo Linhares, presidente da Comissão de Celeridade Processual da entidade, os números ainda não refletem o real tamanho do problema.

"A comissão é recente e muitos advogados ainda não sabem da sua existência. Mesmo assim, já percebemos um aumento de 20% nas queixas em 2025, o que mostra o quanto o tema preocupa a classe", explica Linhares.

Ele aponta a falta de juízes e servidores e a deficiência nos sistemas de gestão como principais causas da lentidão. 

"A demora destrói a confiança na Justiça. Como dizia Rui Barbosa, 'a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta'. O devedor acaba sendo o maior beneficiado desse cenário", completa.

Como solução, Linhares defende a contratação de mais profissionais e o investimento em tecnologia, de modo a garantir a aplicação do princípio constitucional da duração razoável do processo.

A partir da próxima segunda-feira (3), Salvador dará início ao Mês Nacional do Júri, uma iniciativa do CNJ que busca identificar gargalos e acelerar julgamentos. O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) já programou 576 sessões de júri para o período.

Atualmente, há mais de 18 mil ações penais sem julgamento no estado — 13,4 mil delas relacionadas a homicídios qualificados, o crime mais comum nas varas do júri.

Para Maria de Lourdes Medauar, uma das coordenadoras do projeto, a agilidade nos julgamentos é fundamental:

"Com o passar do tempo, provas se perdem e a Justiça corre o risco de falhar em sua missão", ressalta.

José Rotondano, presidente da Comissão de Justiça Criminal e Segurança Pública do CNJ, afirma que é preciso uma atuação conjunta para combater a sensação de impunidade e fortalecer a confiança da sociedade no sistema judicial.

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