James Watson: o gênio do DNA cuja carreira foi manchada por declarações racistas e sem base científica

12/11/2025
A descoberta da dupla hélice de DNA por James Watson é considerada um dos maiores momentos da ciência moderna - Getty Images
A descoberta da dupla hélice de DNA por James Watson é considerada um dos maiores momentos da ciência moderna - Getty Images

Por Revista Formosa

James Watson (1928–2025) foi um dos nomes mais influentes da biologia moderna. Suas descobertas sobre o DNA transformaram o entendimento da hereditariedade e abriram caminho para a biologia molecular contemporânea. 

Ao lado de Francis Crick (1916–2004) e Maurice Wilkins (1916–2004), Watson recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1962, pela identificação da estrutura de dupla hélice do DNA, marco que revolucionou a ciência.

Apesar da genialidade, o legado do cientista americano foi gravemente comprometido por suas declarações discriminatórias e sem respaldo científico

Watson faleceu em 7 de novembro de 2025, aos 97 anos, deixando uma trajetória marcada por conquistas e controvérsias.

Em 2019, ele perdeu todos os títulos honoríficos concedidos pelo laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York — instituição onde trabalhou por décadas — após reafirmar, em um documentário da PBS, sua crença de que haveria diferenças genéticas de inteligência entre negros e brancos. 

A direção do laboratório classificou as falas como "reprováveis e sem fundamento científico", rompendo definitivamente seus vínculos com o pesquisador.

James Watson mostra um modelo de DNA no seu laboratório, em 1962 - Getty Images
James Watson mostra um modelo de DNA no seu laboratório, em 1962 - Getty Images

Essas ideias não eram novas. Já em 2007, em entrevista ao jornal The Times, Watson havia sugerido que a inteligência média dos africanos seria inferior à dos europeus — comentário que provocou enorme repúdio. 

Mesmo após um pedido público de desculpas, ele manteve a fama de figura polêmica.

Outras declarações também geraram indignação. Watson sugeriu que testes genéticos poderiam ser usados para "eliminar pessoas menos inteligentes" e chegou a afirmar que "pessoas obesas não deveriam ser contratadas"

Também defendeu que mulheres pudessem interromper a gravidez caso o feto apresentasse predisposição à homossexualidade — posições amplamente criticadas por cientistas, políticos e instituições de pesquisa.

Com o passar dos anos, o cientista foi se isolando da comunidade acadêmica. Em sua autobiografia Avoid Boring People ("Evite Pessoas Entediantes"), atacou colegas de profissão, chamando-os de "dinossauros" e "fracassados".

Em 2014, Watson voltou aos holofotes ao colocar sua medalha do Nobel à venda — a primeira vez que um laureado tomou tal atitude. 

A peça foi arrematada por um bilionário russo por US$ 4,8 milhões (cerca de R$ 25,5 milhões), que devolveu o prêmio ao cientista como gesto simbólico. 

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Watson afirmou que pretendia usar o dinheiro para apoiar instituições acadêmicas, incluindo o Cold Spring Harbor, a Universidade de Chicago e o Clare College, de Cambridge.

Nascido em Chicago, em abril de 1928, Watson demonstrou talento precoce. 

Aos 15 anos, ingressou na Universidade de Chicago, onde se interessou pela difração de raios X — técnica que o levaria à descoberta da estrutura do DNA. 

Mais tarde, mudou-se para Cambridge, onde conheceu Crick e iniciou a parceria que mudaria a história da biologia.

Casado com Elizabeth, com quem teve dois filhos, Watson lecionou em Harvard antes de assumir, em 1968, a direção do Cold Spring Harbor Laboratory. 

Apesar das contribuições imensuráveis à ciência, seu nome permanece associado à controvérsia, ao preconceito e à perda de prestígio científico nos últimos anos de vida.

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Ganhadores do Prêmio Nobel em 1962. 

Da esquerda para a direita, Maurice H. Wilkins (Medicina, 1916-2004); Max Perutz (Química, 1914-2002); Francis Crick (Medicina, 1916-2004); John Steinbeck (Literatura, 1902-1968); James D. Watson (Medicina, 1928-2025); e John Kendrew (Química, 1917-1997). 

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