Estadia em Belém para a COP30 chega a custar R$ 2,2 milhões

01/08/2025

Valores estratosféricos já estão se tornando foco de crise diplomática 

Lula e o governador do Pará, Helder Barbalho Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula e o governador do Pará, Helder Barbalho Foto: Ricardo Stuckert/PR

Por Revista Formosa

Não é novidade nenhuma que há uma insatisfação generalizada em delegações internacionais pelos valores estratosféricos que vêm sendo cobrados em Belém (PA) por estadias durante o período da COP30, conferência do clima que acontecerá na capital paraense em novembro deste ano. 

E uma pesquisa realizada pelo Pleno.News identificou que esse custo pode chegar a impressionantes R$ 2,2 milhões por 11 diárias.

Em uma busca rápida no site Booking, que comercializa reserva em hotéis e acomodações em geral, não é difícil achar imóveis que cobram mais de R$ 1 milhão para o período entre 10 e 21 de novembro, quando o evento acontecerá. 

O mais caro deles é um apartamento que o anunciante classifica como de "alto padrão", localizado na Rodovia Augusto Montenegro, no bairro Parque Verde, que cobra R$ 2.232.538 por 11 dias.

Em um cálculo simples, o valor de cada diária nesse imóvel é de R$ 203 mil. Na descrição, é dito que a acomodação tem 800 metros quadrados e "oferece piscina privativa, Wi-Fi grátis e estacionamento privativo grátis". 

Além disso, é informado que o local possui "acesso para um terraço com vista para o jardim, o apartamento com ar-condicionado tem dois quartos e uma cozinha completa". A capacidade seria para 16 pessoas.

Há, no entanto, outros imóveis em Belém cuja relação entre o que oferecem e o valor cobrado chama ainda mais a atenção. A segunda acomodação mais cara listada pelo Booking, por exemplo, custa R$ 1,346 milhão no período da COP, uma média de R$ 122,4 mil por dia. 

Porém, diferentemente do apartamento mais caro do ranking, o imóvel em questão está longe de ser espaçoso – tem apenas 92 metros quadrados, com um quarto, um banheiro e uma cama de casal.

Hotéis

Se o interessado em participar da COP30 na capital paraense optar por se hospedar em um hotel, os valores não deixam de ficar totalmente fora da realidade. Na Rede Andrade Hangar, no bairro Marco, a 5,8 quilômetros de distância do famoso Mercado Ver-o-Peso, o hóspede precisará desembolsar a bagatela de R$ 109,8 mil pelo período entre 10 e 21 de novembro, o que significa uma diária de quase R$ 10 mil.

Por esse valor, o leitor pode até pensar que a hospedagem em questão é em uma suíte presidencial de um hotel cinco estrelas. No entanto, trata-se de um quarto individual de um hotel três estrelas, acomodações que em condições normais não custariam nem perto de R$ 10 mil por dia. 

Comparativamente, uma diária em novembro em uma suíte do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, sai atualmente por R$ 6,38 mil. 

Um outro hotel da mesma Rede Andrade, mas que fica a apenas 400 metros do Mercado Ver-o Peso, é o segundo mais caro da lista, custando R$ 96,3 mil por 11 dias, uma média de R$ 8,7 mil por diária. A acomodação é parecida com a da unidade Hangar: um quarto individual.

Na lista, até mesmo hotéis que ficam a mais de 20 quilômetros do Centro de Belém estão cobrando mais de R$ 30 mil pelo período do evento. O Marujus Cotijuba, por exemplo, que fica localizado a 23 quilômetros do Centro da capital paraense, cobra R$ 34,6 mil por um quarto duplo, o que resulta em cerca de R$ 3,15 mil por diária. 

Valores se transformam em Crise Diplomática
Em entrevista a correspondentes estrangeiros, o embaixador André Corrêa do Lago, escolhido para ser presidente da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, disse que há um esforço muito grande do governo, liderados pela Casa Civil, para conseguir convencer os hotéis de Belém, no Pará, a baixarem os preços para o evento, diante de aumento de até 10 vezes do valor normal.

Lago admitiu que os hotéis geralmente aumentam os preços em todas as COPs que já foram realizadas, mas que em Belém está havendo um movimento extorsivo, e por esse motivo alguns países já manifestaram que podem deixar de participar.

"No caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de dez vezes os valores normais. Então, há uma sensação, literalmente, de revolta dos países por essa insensibilidade, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, os países de menor desenvolvimento relativo, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos, abusivos, que estão sendo cobrados", informou.

Ele reconheceu que a crise se agravou após a declaração do negociador africano Richard Muyungi, que, em entrevista à agência Reuters, revelou que países chegaram a solicitar oficialmente a mudança da conferência para outra cidade.

"Os esforços continuam, mas eu acredito, talvez, que os hotéis não estejam se dando conta da crise que eles estão provocando e, realmente, isso se tornou, a partir do momento que ficou público, com a declaração de um representante dos países africanos, em entrevista à Reuters, que os países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém", acrescentou.

*Com informações AE