Esquema milionário do PCC: postos de combustíveis no Piauí usados para lavagem de dinheiro

06/11/2025

Esquema de fraudes em combustíveis movimentou quase R$ 5 bilhões 

Postos de combustíveis interditados pela Operação Carbono Oculto 86 — Foto: Divulgação/SSP-PI
Postos de combustíveis interditados pela Operação Carbono Oculto 86 — Foto: Divulgação/SSP-PI

Por Revista Formosa

Na quarta-feira (5), a Operação Carbono Oculto 86 foi deflagrada e desvendou um esquema de lavagem de dinheiro no valor aproximado de R$ 5 bilhões, ligado à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). 

Em ação coordenada, policiais civis interditaram 49 postos de combustíveis em cidades dos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins.

A investigação aponta que a facção estava montando uma distribuidora de combustíveis na rodovia entre a capital Teresina e o município de Altos, com o objetivo de abastecer mais estados, conforme informação do secretário de Segurança do Piauí, Chico Lucas. 

A seguir, saiba como funcionava o esquema descoberto pela polícia.

Como o esquema operava?
A apuração mostrou que o PCC atuava de forma irregular na cadeia de importação e distribuição de combustíveis nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins. 

Foram identificadas falhas em várias etapas da produção e da comercialização de gasolina e etanol.

A suspeita é de que o modus operandi seja parecido com o da operação anterior, também denominada Carbono Oculto. 

Para ocultar os reais beneficiários, os investigados utilizavam "laranjas", constituíam fundos de investimento e faziam movimentações por meio de fintechs, numa dinâmica muito similar à da investigação anterior. 

Ainda segundo a polícia, em muitos casos a compra e a venda de combustíveis eram simuladas por meio de contratos falsos; as empresas-alvo compravam os postos em municípios, mudavam a bandeira comercial mas sem alterar de fato a gestão, e emitiam notas fiscais em duplicidade para dobrar lucros. 

Uma parte significativa das transações passava por fintechs.

O grupo também estava erguendo uma distribuidora de combustíveis na rodovia entre Teresina e Altos para atender outros estados. O imóvel foi interditado pelas autoridades.

"O Piauí é geograficamente estratégico porque tem a única capital no interior. Esse grupo estava construindo uma distribuidora de combustível, na estrada para Altos, para irrigar os outros estados. São alimentados pelo braço financeiro do PCC, que estava na Faria Lima", afirmou o secretário de Segurança do Piauí, Chico Lucas.

Conforme ele, a infiltração da facção no setor de combustíveis gerou desequilíbrio para os consumidores — tanto por preços abaixo do normal na bomba quanto pela adição de substâncias ao combustível.

Quais postos foram identificados?

Quase 50 postos são interditados no PI, MA e TO por suspeita de lavar dinheiro para o PCC — Foto: Divulgação/SSP-PI
Quase 50 postos são interditados no PI, MA e TO por suspeita de lavar dinheiro para o PCC — Foto: Divulgação/SSP-PI

O secretário Chico Lucas ressaltou que ao menos três dos postos investigados acumulavam mais de 20 autuações entre 2023 e 2025.

Segue a listagem dos postos interditados no Piauí (em Teresina, Parnaíba, Altos, São João da Fronteira, Demerval Lobão, Lagoa do Piauí, Miguel Leão, Oeiras, Picos, Uruçuí, Canto do Buriti, Dom Inocêncio) e nos municípios dos estados do Maranhão. (A lista completa foi publicada pela força-tarefa.)

Postos identificados na Operação Carbono Oculto 86

De acordo com a Secretaria de Segurança do Piauí, 49 postos de combustíveis foram interditados durante a operação, distribuídos entre cidades do Piauí e Maranhão.

O secretário Chico Lucas destacou que três deles acumulam mais de 20 autuações judiciais entre 2023 e 2025, reforçando a suspeita de reincidência nas irregularidades.

No Piauí, os postos investigados ficam nas cidades de:

  • Teresina: Postos HD 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 13, 14, 18, 19, 20 e HD Petróleo Premium Ltda.

  • Parnaíba: Postos HD 27 e HD 34.

  • Altos: Postos HD 17 e HD 32.

  • São João da Fronteira: Posto HD 33.

  • Demerval Lobão: Posto HD 12.

  • Lagoa do Piauí: HD TRR e Posto HD 11.

  • Miguel Leão: Posto HD 16.

  • Oeiras: Posto HD 15.

  • Picos: Postos HD 22 e HD 24.

  • Uruçuí: Posto HD 26.

  • Canto do Buriti: Postos HD 21 e HD 29.

  • Dom Inocêncio: Posto HD 23.

No Maranhão, foram identificados:

  • Peritoró: Postos HD 25 e HD 36.

  • Caxias: Posto HD 28.

  • Alto Alegre do Maranhão: Posto HD 31.

  • São Raimundo das Mangabeiras: DRPX Diamante Rede de Postos 23.

  • Timon: Consórcio Rota Energia.

  • São Luís: JOI Locações.

As empresas envolvidas operavam sob as bandeiras Rede HD e Rede Diamante, além de outras companhias do mesmo grupo econômico, usadas para mascarar a real propriedade e movimentação financeira ligada à facção criminosa.

Como a polícia chegou ao esquema?

PCC construía distribuidora de combustíveis entre Teresina e Altos, diz Polícia — Foto: SSP/PI
PCC construía distribuidora de combustíveis entre Teresina e Altos, diz Polícia — Foto: SSP/PI

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI), as primeiras anomalias nos postos começaram a ser percebidas em 2023, após a venda da rede "Rede HD". 

Uma empresa foi constituída repentinamente e a operação financeira acompanhada pelos investigadores chamou atenção.

Com a venda, a holding assumiu o controle de outras companhias como "Rede Diamante" e "Mind Energy", também investigadas.

A partir daí, a polícia identificou os proprietários atuais das empresas, os antigos donos e aqueles apontados como "laranjas".

Quem são os investigados e quais empresas estão envolvidas?
Entre os investigados estão:

  • Rogério Garcia Peres: gestor da Altinvest Gestão de Recursos, apontado como operador financeiro do PCC.

  • Denis Alexandre Jotesso Villani: empresário paulista ligado à Rede Diamante, envolvido em cerca de 40 empresas, entre elas 12 postos no Piauí.

  • Haran Santhiago Girão Sampaio e Danillo Coelho de Sousa: antigos proprietários da Rede HD, responsáveis pela expansão e posterior venda da rede.

  • Moisés Eduardo Soares Pereira e Salatiel Soido de Araújo: empregados e intermediários locais usados como "laranjas" em holdings com sede em São Paulo.

  • O ex-secretário e ex-vereador Victor Linhares também foi citado pela polícia como pessoa de interesse na operação; teria sido orientado a abrir conta em fintech "BKBank", conhecida como "a fintech do PCC", e realizou pix de R$ 230 mil que foi movimentado para outra conta e logo depois desativado.

Empresas e fundos sob investigação:

  • Pima Energia Participações Ltda.: holding criada antes da compra da Rede HD, associada ao Jersey Fundo de Investimentos e à Altinvest.

  • Mind Energy Participações Ltda.: empresa de São Paulo usada para transferir unidades da rede.

  • Rede Diamante / DNPX Diamante Nice Participações Ltda.: nova bandeira que assumiu 12 postos no Piauí e Maranhão, controlada por Denis Villani.

  • Fundos e fintechs: Altinvest, Jersey FIP, GGX Global Participações, Duvale Distribuidora e Copape Produtos de Petróleo.

O que foi apreendido?

Avião de empresário é apreendido em operação contra postos suspeitos de lavar dinheiro para o PCC — Foto: Divulgação/SSP-PI
Avião de empresário é apreendido em operação contra postos suspeitos de lavar dinheiro para o PCC — Foto: Divulgação/SSP-PI

Foram apreendidos: um avião monomotor Cessna Aircraft 210, estimado entre R$ 1 milhão e R$ 3,5 milhões; um Porsche Macan 2.0 Turbo, avaliado em cerca de R$ 500 mil. 

A polícia bloqueou mais de R$ 348 milhões de contas de 10 pessoas e 60 empresas relacionadas aos investigados. Outros três aviões também têm mandados de apreensão — a polícia notificou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para localizá-los.

O que dizem os citados na operação?
A Altinvest, gerida por Rogério Garcia Peres, informou que o fundo citado na operação foi encerrado em 5 de maio de 2025 e que tem colaborado com as autoridades. 

Tentativas de contato com Denis Alexandre Jotesso Villani, Victor Linhares de Paiva e com as empresas Pima Energia, Rede HD não obtiveram resposta até a última atualização da reportagem. 

Também não foi possível contato com Mind Energy, Rede Diamante / DNPX Diamante Nice Participações Ltda., Jersey FIP, GGX Global Participações, Duvale Distribuidora e Copape Produtos de Petróleo.

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