Entenda os fatores que levaram os Correios à crise financeira

Por Revista Formosa
Os Correios atravessam uma das fases mais delicadas de sua história recente, resultado da combinação de dificuldades financeiras, defasagem do modelo de negócios e pressão política por resultados.
O cenário se agravou a ponto de o governo federal precisar assegurar um empréstimo bilionário como medida emergencial para garantir a continuidade dos serviços postais em todo o país.
A crise tem raízes estruturais. A principal fonte de receita histórica da estatal — o envio de cartas — sofreu forte retração com a digitalização de documentos, comunicações oficiais e serviços bancários.
Ao mesmo tempo, a expansão acelerada do comércio eletrônico expôs limitações operacionais dos Correios em um mercado altamente competitivo, hoje dominado por empresas privadas de logística com maior flexibilidade de custos, tecnologia mais avançada e processos mais ágeis.
Atualmente, a empresa registra despesas anuais em torno de R$ 23 bilhões. Aproximadamente dois terços desse montante são destinados a gastos com pessoal, o que reduz a margem para investimentos e ajustes operacionais.
Diante desse cenário, os Correios anunciaram um plano de reestruturação que inclui um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV), com a previsão de adesão de até 15 mil funcionários, o fechamento de mais de mil agências em todo o país, a venda de imóveis, mudanças no plano de saúde dos empregados e a revisão da estrutura de cargos e salários.
Segundo a própria empresa, os impactos financeiros dessas ações serão graduais e devem se consolidar apenas nos próximos anos.
Até setembro, a estatal acumulava prejuízo de R$ 6,1 bilhões no ano. Diversos fatores ajudam a explicar o aprofundamento da crise:
Concorrência no setor de encomendas
Desde o fim do monopólio no transporte de encomendas, em 2009, os Correios passaram a perder espaço para operadores privados.
A exclusividade ficou restrita a cartas, cartões postais e malas diretas — justamente os serviços que tiveram queda acentuada na demanda com o avanço da economia digital.
Impacto da chamada "taxa das blusinhas"
A tributação de encomendas internacionais de até US$ 50, em vigor desde agosto de 2024, afetou diretamente a receita da empresa.
Além da redução no volume de remessas, os Correios deixaram de ter exclusividade na importação desses produtos.
Crescimento das despesas com pessoal
Mesmo diante de dificuldades financeiras, a empresa concedeu reajuste linear de 4,11% para mais de 55 mil empregados, além de restabelecer benefícios considerados acima da média do mercado, como o adicional de 70% sobre as férias.
Também foi realizado concurso público para mais de 3 mil vagas, embora os aprovados ainda não tenham sido convocados.
Esgotamento do caixa
A estatal utilizou recursos próprios para investir na compra de veículos elétricos e em tecnologia em um momento de fragilidade financeira, o que contribuiu para a redução do caixa disponível.
Custo do plano de saúde
Os Correios são responsáveis diretos pelo plano de saúde dos funcionários, arcando com todos os riscos e eventuais déficits da operadora.
Embora uma mudança estatutária em 2022 previsse a adoção de um modelo menos oneroso, a decisão foi revertida posteriormente.
Passivos judiciais
A empresa também enfrentou dificuldades no controle de ações judiciais, especialmente trabalhistas.
A falta de um diagnóstico preciso levou, inclusive, a ressalvas no balanço feitas pela auditoria independente.
O pagamento de precatórios teve peso significativo nos prejuízos registrados nos últimos trimestres.
O conjunto desses fatores evidencia que a crise dos Correios não é pontual, mas resultado de problemas acumulados ao longo dos anos, exigindo mudanças profundas para garantir a sustentabilidade da estatal no médio e longo prazo.
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