Editorial - O perigo da infância digital
Restrição da idade, proibindo-se os vulneráveis, pode não ser a melhor saída, de um ponto de vista pedagógico

Por Revista Formosa
Investimentos crescentes em ações educativas e preventivas para crianças, famílias e professores são inevitáveis se o objetivo é combater o abuso e exploração sexual infantil.
Enquanto não se consegue maior desenvolvimento ético e afetivo na sociedade brasileira, a opção possível é a de incentivar a comunicação de crimes ao delatarem-se os envolvidos nas hediondas tramas contra inocentes. Nesta perspectiva de identificação dos criminosos, o Brasil alcançou em 2022 a marca de 111 mil denúncias de armazenamento, produção e repasse em larga escala de imagens desse tipo de abuso.
Os dados são da organização não-governamental Safernet, reconhecida por seu trabalho nesta delicada seara, sem interesses empresarial ou político-partidário, mas comprometida com o bem comum.
O número cresceu 10% em relação ao ano anterior, sinalizando a possibilidade de uma maior audácia dos infratores ou de afrouxamento das operações punitivas por parte dos órgãos repressivos.
Um hipotético gráfico não gera otimismo, pois enquanto as tecnologias são aprimoradas e adquiridas a valores acessíveis, a consciência do usuário de internet, na formação do caráter, não cresce na mesma proporção.
Ao contrário: pesquisadoras e pesquisadores do ciberespaço não escondem a preocupação com a inversão dos vetores, com o aumento da inclusão digital em desproporção direta à capacitação para um convívio saudável nas redes.
Como agravante, sabe-se o quanto as armadilhas virtuais são atraentes, capturando menores faixas etárias a cada brinquedinho novo e cheio de figuras divertidas, à guisa de isca para um relacionamento tóxico.
A restrição da idade, proibindo-se os vulneráveis, pode não ser a melhor saída, de um ponto de vista pedagógico, pois aumentará o desejo de conexão, ampliando o apetite na primeira chance de burla da ordem do adulto.
Não bastasse o risco para a integridade física, pois a relação online pode migrar para a offline, ainda há o prejuízo da redução do hábito de acesso a leituras confiáveis.
Fonte: Editorial A Tarde
