Brasil registra alta no câncer de próstata; 48 homens morrem por dia e cresce número de diagnósticos entre jovens

01/11/2025
Luciano foi diagnosticado com câncer de próstata em 2022 — Foto: Arquivo Pessoal
Luciano foi diagnosticado com câncer de próstata em 2022 — Foto: Arquivo Pessoal

Por Revista Formosa

Luciano Ferreira, administrador paulista de 50 anos, só procurou atendimento médico porque estava prestes a perder o plano de saúde. 

A consulta seria para tratar um desconforto no estômago, mas o médico solicitou um exame de PSA — marcador utilizado para detectar alterações na próstata.

"O resultado mostrou uma leve alteração. Fiz o ultrassom e parecia tudo bem, mas o urologista pediu uma ressonância. Quando vi o laudo com a palavra carcinoma, fiquei sem chão", recorda.

O diagnóstico veio em 2022, ainda em estágio inicial. Luciano foi submetido à cirurgia para retirada da próstata e hoje, três anos depois, está em remissão. 

"Fiz o exame por acaso e isso salvou minha vida. Hoje entendo que prevenção é sinônimo de cuidado", afirma.

Casos entre homens jovens aumentam 32%

Dados do Ministério da Saúde indicam que os atendimentos por câncer de próstata em homens com até 49 anos cresceram 32% entre 2020 e 2024 — passando de 2,5 mil para 3,3 mil procedimentos no SUS.

A maioria dos casos envolveu quimioterapia (84%), seguida por cirurgias (10% a 12%) e radioterapia (3% a 4%). Para o urologista Rafael Ambar, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), o aumento reflete um avanço: 

"Mais diagnósticos significam mais chances de cura, porque os pacientes estão chegando antes".

Entre os homens acima de 50 anos, o volume de atendimentos ainda é maior — 250 mil só em 2024 —, mas o crescimento proporcional foi menor.

Mortalidade segue alta: quase 18 mil mortes em 2024

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o Brasil registrou 17.587 mortes por câncer de próstata em 2024, o que equivale a 48 óbitos por dia — um aumento de 21% em dez anos.

"O câncer de próstata é silencioso. Quando surgem sintomas, o quadro geralmente já é avançado", alerta Luiz Otávio Torres, presidente da SBU.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) projeta 71,7 mil novos diagnósticos em 2025, mantendo o câncer de próstata como o tipo mais incidente entre homens — atrás apenas do câncer de pele.

Por que há mais casos?

O diretor-geral do INCA, Roberto Gil, explica que o crescimento está ligado ao envelhecimento da população e à ampliação dos exames de rastreamento, como PSA e biópsia prostática.

"Hoje há mais capacidade de detectar e registrar casos que antes passavam despercebidos. Não se trata de um aumento real do risco, mas de uma melhoria na vigilância", afirma.

Entenda a doença

A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz localizada abaixo da bexiga e responsável por produzir parte do sêmen. O câncer ocorre quando suas células se multiplicam de forma anormal, formando tumores que podem se espalhar para outros órgãos.

Nos estágios iniciais, o câncer de próstata costuma ser assintomático. Quando surgem sinais, geralmente indicam fase avançada — entre eles: dificuldade para urinar, jato fraco, sangue na urina ou no sêmen, dor óssea e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga.

O diagnóstico combina exames de PSA e toque retal. Caso haja suspeita, são realizados exames complementares, como ressonância magnética e biópsia.

Homens com histórico familiar de câncer de próstata, mama ou colorretal devem iniciar o rastreamento aos 40 anos; os demais, a partir dos 45.

Tratamento e chances de cura

As opções terapêuticas dependem do estágio da doença e do perfil do paciente. Entre elas:

  • Vigilância ativa: acompanhamento regular para tumores de baixo risco.

  • Cirurgia (prostatectomia radical): retirada completa da próstata, com altas taxas de cura em casos iniciais.

  • Radioterapia: destrói células tumorais por radiação.

  • Hormonioterapia e quimioterapia: aplicadas em fases avançadas.

  • Radiofármacos: utilizados em casos metastáticos.

"Quando diagnosticado precocemente, o câncer de próstata tem mais de 90% de chance de cura", destaca Maurício Cordeiro, da SBU.

Mais informação, menos preconceito

Para o oncologista Raphael Brandão, da Clínica First, os homens mais jovens têm buscado prevenção com mais frequência. 

"A nova geração está mais consciente e quebrando tabus. O autocuidado passou a ser parte da rotina."

Entretanto, as desigualdades regionais persistem. 

"O Sul e o Sudeste têm maior acesso a exames e especialistas, o que reduz a mortalidade. Já o Norte e o Nordeste ainda enfrentam carência de infraestrutura e profissionais", afirma Roberto Gil, do INCA.

Novas tecnologias e avanços no SUS

As cirurgias robóticas, recentemente incorporadas ao Sistema Único de Saúde, representam um grande avanço por serem mais precisas e proporcionarem recuperação mais rápida.

Nos casos avançados, o uso de bloqueadores hormonais de nova geração — como apalutamida, enzalutamida e abiraterona — tem prolongado a sobrevida e reduzido o risco de metástase.

Estudo publicado na The Lancet projeta que o número global de casos deve dobrar até 2040. 

"Rastrear cedo continua sendo a principal arma contra a doença", alerta Roni de Carvalho Fernandes, da Escola Superior de Urologia da SBU.

Investimento em diagnóstico e atendimento

O Ministério da Saúde ampliou as ações do programa Agora Tem Especialistas, com foco em oncologia. Entre as medidas estão:

  • Aquisição de 121 novos aceleradores lineares para radioterapia;

  • 150 carretas de atendimento itinerante em regiões com carência de especialistas;

  • Criação do Super Centro Brasil de Diagnóstico de Câncer, com tecnologia de telessaúde.

O investimento previsto é de R$ 126 milhões até 2026, reforçando o compromisso do SUS com a detecção precoce e o tratamento do câncer de próstata.

Com informações G1

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